Em nosso post de hoje iremos discutir sobre a necessidade de conhecer o contexto no qual deseja ingressar antes mesmo de se submeter ao processo seletivo. Partimos do pressuposto de que a partir do momento em que temos uma visão ampla e clara sobre o espaço no qual iremos adentrar, o processo de adaptação se dá de uma forma muito mais tranquila.
Nesse sentido, temos como objetivo neste post discutir um pouco sobre a importância de conhecer um espaço antes mesmo de fazer parte dele, focando, claro, no ensino superior. Além disso, é crucial compreender como trabalha o seu orientador, o programa e a linha de pesquisa para que essa experiência seja a melhor possível. Sendo assim, acreditamos ser fundamental que iniciemos esta discussão discutindo um pouco sobre as estratégias a serem empregadas pelo aluno que não é “da casa”.
Adaptação dos alunos que não são “da casa”
Os alunos “da casa” são aqueles que permanecem em uma mesma instituição durante a graduação e a pós-graduação. Logo, a pessoa que faz um curso de graduação em uma instituição x e um mestrado em uma instituição y não é “da casa”, pois sua trajetória não foi iniciada na instituição y.
Nesse sentido, a pessoa que transita de uma casa para outra carrega certos “vícios” que são visões e compreensões adquiridas em outros espaços. Comumente, pessoas que fazem a graduação em x lugar e mestrado em y lugar vão para esses espaços com a sua visão da outra instituição onde fez o seu curso de graduação, o que nem sempre é bem-visto.
Posto isso, cabe a nós destacar que se você objetiva mudar de casa, terá que se deparar com uma série de desafios, uma vez que terá que se adaptar a uma nova lógica. A adaptação é uma questão muito abrangente, pois ela diz respeito à adaptação àquele contexto específico e à pós stricto sensu (à sua lógica, que é diferente).
Como se adaptar às novas regras de uma casa?
Se você está há muito tempo longe da academia e decidiu retornar agora ou se mudou para uma nova, irá perceber um contexto um pouco diferente daquilo que você estava acostumado.
Além de estar, nesse momento, conhecendo um novo mundo, estará, também, se acostumando novamente com a prática da leitura, escrita, pesquisa e estudo. O mundo da pós stricto sensu é muito diferente da graduação, o que por si só demanda muita pesquisa para que você consiga se adaptar da melhor forma.
Nesse sentido, ao ingressar em uma nova “casa”, terá que se adaptar às suas regras, o que demanda dedicação e força de vontade. Logo, a sua primeira tarefa, nesse momento, deve ser pesquisar e compreender como funcionam as regras daquela casa. Assim, uma das formas de você conseguir fazer isso é analisando a postura dessa instituição/programa.
Analise a postura dessa instituição/programa
Uma dica bastante válida é que você pode compreender como essa instituição/programa funciona ao analisar a forma como as dissertações e teses são desenvolvidas e os artigos publicados pelos pesquisadores.
Dessa forma, além da análise das dissertações, teses e artigos é muito importante que você verifique quais são os autores, teorias, conceitos e metodologias com os quais os professores dessa instituição/programa trabalham em suas respectivas linhas de pesquisa.
Também é de suma importância que você tenha claro em mente como os orientadores trabalham, com foco na compreensão dos seus interesses de pesquisa. De modo que, é crucial que você tenha claro em mente qual é a academia que influencia a linha de raciocínio desses professores e da linha de pesquisa na qual você deseja ingressar.
Algumas das academias que mais influenciam as intuições do Brasil são a francesa, a alemã, a norte-americana e outras. Cada uma das instituições, daqui do Brasil, tem seus pensamentos influenciados por certos autores e entendem a ciência de uma forma específica. Por esse motivo, é essencial que você tenha claro em mente quais são os autores, teorias e conceitos com os quais essa academia costuma trabalhar.
É importante se atentar as bases de referência de seu orientador
A fim de que você possa contribuir de forma efetiva com a sociedade e com esse programa como um todo, é essencial que os autores, conceitos e teorias de seu interesse sejam os mesmos com os quais o seu professor trabalha.
Esses cuidados são essenciais para que você evite certos tipos de conflitos com o seu orientador.
Posto isso, vale destacar que não são raros os casos de alunos que se “mudam” de uma “casa” para outra e querem trabalhar com os mesmos autores, conceitos e teorias. Contudo, se a academia que influencia essa casa na qual fará o mestrado não é a mesma que influencia a anterior, onde você fez a sua graduação, dificilmente conseguirá trabalhar com os mesmos autores, conceitos e teorias.
Podemos citar como exemplo a Semiótica. Se você ingressar em um programa no qual os autores trabalham com a Semiótica de Peirce, mas quiser utilizar outro conceito da semiótica, é possível que as pessoas estranhem a sua escolha. De modo que, o professor também poderá apresentar uma compreensão diferenciada a respeito dessa questão, podendo ser contra ou a favor.
O alinhamento de interesses
A fim de que o alinhamento de interesses seja concretizado, é de suma importância que você trabalhe com a mesma corrente que o seu professor. São poucos os casos em que o orientador cede e permite que o aluno permaneça com os autores com os quais apenas ele conhece/está acostumado.
Nesse sentido, é de vital importância que você tenha muito claro em mente quais são os autores que alicerçam a linha de pensamento de seu professor. Ter esse cuidado de checar as bases de referências dos professores para ter a certeza de que os interesses estão alinhados não é algo indicado apenas para a área das Ciências Humanas.
Há, por exemplo, no campo das Ciências Exatas e das Ciências da Saúde, pesquisadores de determinados programas que se especializam em um aspecto muito específico trabalhado por um autor também específico, o que torna essencial que também haja, nesses casos, o alinhamento dos interesses de pesquisa.
Os interesses dos programas de mestrado
Cada programa tem um interesse de pesquisa específico, de modo que todos os trabalhos ali feitos e defendidos perpassam por esse este. Dessa forma, um exemplo que podemos citar está relacionado com a área da Odontologia: há pesquisas que focam apenas em aços que podem ser utilizados para implantes dentários. Nesse sentido, todos os alunos que ingressam nesses programas de mestrado ou doutorado têm como foco pesquisas que dizem respeito a esses aços.
Logo, a fim de que você conheça melhor quais são os interesses dos programas de determinada instituição, é viável que analise os últimos trabalhos defendidos em uma dada linha de pesquisa, orientados por um dado professor, pois conseguirá saber qual é o interesse de pesquisa atual da “casa”.
Tenha muito claro em mente quais são esses interesses e os autores, teorias e conceitos utilizados por “casa”, a fim de que esteja preparado para o momento de ingresso nessa instituição/programa.
Quais são os benefícios fomentados por um curso de mestrado?
O mestrado fará com que você se torne um indivíduo muito mais crítico, reflexivo e pensante sobre o mundo ao seu entorno. Além disso, terá uma autonomia muito maior, desde que se permita sair da sua zona de conforto e aprender com os feedbacks do seu orientador e demais acadêmicos com os quais terá contato ao longo de sua formação.
Todavia, um curso de mestrado, a depender da forma como você lida com ele, pode ser tanto um céu quanto um inferno. Tudo depende da maneira como você irá se posicionar diariamente quanto às mais diversas situações. É com essas situações que você chegará a tão sonhada maturidade acadêmica.
É esta maturidade que fará com que você tenha maior autonomia na pesquisa. Caso você se permita, o mestrado fará com que você adquira competências e habilidades com as quais nunca sonhou antes.
Permita-se aprender com esse curso de mestrado
O momento do mestrado e doutorado deve ser um processo enriquecedor não apenas para sua formação profissional, mas também pessoal. Para tanto, é essencial que ele seja feito da maneira mais tranquila possível para que possa tirar o melhor proveito desse momento como um todo.
Caso você se permita, é um período em que você trabalhará de forma constante com a sua humildade, com o seu ego e com a sua capacidade de se reinventar e aprender um pouco mais a cada dia.
Leve esse curso à sério, pois é apenas dessa forma que você conseguirá ter acesso a todos os benefícios mencionados no parágrafo anterior. Se você ficar sempre em uma postura defensiva e não se permitir aprender com os feedbacks e críticas, dificilmente conseguirá ser beneficiado.
Além disso, desfaça-se de suas verdades, porque não há nenhum conhecimento que seja absoluto. Se você fica sempre na defensiva, esse momento que deveria ser bastante enriquecedor pode ser tenso e frustrante. Diante disso, queremos chamar a sua atenção quanto a uma necessidade.
Mesmo que você não concorde com o ponto de vista de seu orientador, entenda que ele, nesse momento, é o verdadeiro sábio e sem dúvidas tem base para afirmar aquilo. Ao invés de criticá-lo logo de cara, permita-se aprender com esse ponto de vista. Esse professor estudou por anos e anos e, sem dúvidas, sabe sobre o que está falando.
Por que é importante entender o outro?
Essa não é uma questão que se esbarra apenas no âmbito acadêmico, visto que, em qualquer esfera, a partir do momento em que nos colocamos no lugar do outro, aprendemos mais e mais sobre os diversos assuntos.
Algo interessante na academia, caso você se coloque no lugar de ouvinte, é que perceberá quais são as estratégias colocadas em prática por esse professor para defender um ponto de vista específico.
Se você partir desse pressuposto, conseguirá ter muito claro em mente quais foram os motivos que fizeram com que ele chegasse a esse ponto de vista em específico. É apenas o diálogo que nos traz essa clareza.
Esse exercício fará com que você seja uma pessoa muito mais rica em termos intelectuais. Claro, é impossível que concordemos com tudo o que um professor fala, porém, é nosso papel nos colocar no lugar de ouvintes para que entendamos o porquê de não concordamos com algo.
A riqueza intelectual da academia brasileira
Os cientistas brasileiros são reconhecidos em todo o mundo, então, para nós, é um privilégio podermos ter contato com mentes tão brilhantes, porém, esse aprendizado apenas se torna enriquecedor quando nos permitimos aprender de fato com esses sábios.
Temos uma série de acadêmicos que têm fomentado a nossa ciência diariamente. Esse momento do mestrado ou doutorado, portanto, deve ser um período para você aproveitar tudo aquilo que essas mentes brilhantes têm a oferecer.
Claro, desafios e contratempos aparecem, porém, quando aprendemos a mediar os conflitos, conseguimos lidar com tais problemas de uma forma mais efetiva e, dessa forma, conseguimos aprender e aproveitar cada uma das situações diárias com as quais temos contato ao longo de nossa formação. Há, claro, pessoas com ego inflado e que não aceitam outros pontos de vista, porém, elas são minoria.
Como tornar a minha experiência no mestrado significativa?
A partir do momento em que nos permitimos aprender com cada situação desse curso, nos tornamos pessoas muito mais emancipadas intelectualmente. Ao contrário do que muitos pensam, o momento do mestrado e do doutorado não é para ser um processo que distingue os acadêmicos da sociedade laica.
Na verdade, a missão dos cientistas é justamente a de aproximar a universidade da sociedade, pois são os cidadãos aqueles que mais necessitam de acesso ao conhecimento científico seguro e de qualidade, sobretudo nesse momento em que as fakes news e as desinformações são disseminadas nos mais diversos contextos.
Entretanto, para que esse conhecimento rico, emancipador, possa ser construído, o pesquisador deve assumir uma postura específica: a de sujeito ativo e, como tal, a cada dia, deve estudar, pesquisar, ler e produzir cada vez mais. O conhecimento é a chave para a transformação.